Cálice é uma música que retrata o drama das vítimas da ditadura militar do Brasil.
Cálice: "de vinho tinto de sangue". |
O “blog” analiseagora tem o
privilégio de abrir este espaço cultural para a música dos compositores e
cantores Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil a emblemática e histórica
composição (cálice). Esta é uma das músicas composta por Chico e Gil que descreve
em lindos versos, o momento mais dramático da ditadura militar da história
recente brasileira. Período sangrento entre 1964 e 1985. Cálice é uma música do
ano de 1973, mas foi censurada e apenas foi liberada para ser cantada em
público, em 1978.
Um tempo depois apareceu pela primeira vez no álbum Chico Buarque, com Milton Nascimento nos versos de Gilberto Gil. Logo em seguida surgiu o álbum “Álibi” de Maria Bethânia.
Chico e Gil escreveram uma
grandiosa obra que se encaixa perfeitamente no gênero drama. Cada estrofe da composição
é rica em metáforas que servem para pintar o drama vivido por todos os
perseguidos, contrários ao regime militar. Não obstante, se destina
especificamente aos que foram presos e torturados até a morte pelos assassinos
que comandaram o poder em plenos anos de chumbo em nosso país. No Brasil neste
período se instalou a violência institucionalizada!
Com muita perceptibilidade os
compositores escreveram os versos desta música sobre o sofrimento do povo que
lutavam pela volta da democracia. No entanto, enfatizam em especial aqueles que
viveram nos porões da ditadura. Os que ofereceram suas vidas em sacrifícios em
nome da democracia.
O contexto histórico da composição cálice.
Uma legítima paixão sacrificial,
como que Cristo fez por nós. Ele sofreu na cruz pelos nossos pecados. Agora os
compositores utilizam a dramática metáfora “pai afasta de mim este cálice”.
Este drama do Salvador do mundo, Jesus, Cristo, estava em sua agonia no Monte
das Oliveiras. Ele naquele momento já estava prevendo a sua paixão e morte de
cruz. No entanto, orava e pedia a Deus que se fosse possível, afastasse Dele está
taça de sofrimento. Contudo, Ele sempre pediu que se fizesse a vontade de seu
Pai. (Confira mais informações em Lucas. 22: 42). Imaginem Jesus que é Deus, na
agonia antes de sua paixão sofreu amargamente uma dor incomensurável por nós
humanos. Tanto que Ele pediu se fosse possível que seu Pai o afastasse desse
sofrimento. Entretanto, em primeiríssimo lugar que se realizasse a vontade de
Deus e não a Dele. Agora, traçando esse paralelo entre os humanos.
Se observa no contexto histórico
da obra musical, os contrários à ditadura, eram torturados covardemente através
de outros homens fardados, até a morte. O Brasil vivia o pior período da
história do país, repleta de horrores; sem precedentes. Tudo isto porque os
opositores não aceitavam o regime dos governos torturadores, criminosos, e
assassinos militares. Principalmente a tudo que ocorria de ruim na então
conjuntura política ditatorial nacional.
As dores do golpe são transmitidas nesta música o
cálice.
A composição (cálice) descreve
com sutileza nas entrelinhas, muitas semelhanças dos golpes de 1964 e 2016.
Cálice: "de vinho tinto de sangue" |
Quantas coisas não devem ter se
passado nas mentes dos torturados, quantos pedidos de afastamento deste cálice
de dor, foram feitos em silêncio. Numa extrema sutileza, os compositores desta
obra-prima descreveram o sofrimento dos torturados do regime militar.
Como esta música é riquíssima em
metáforas, permanece impossível analisar as metáforas uma a uma, a matéria
ficaria longa demais. Apenas me concentrei no refrão, as demais partes da obra
é importante se fazer um profundo estudo da letra da música com serenidade.
Imprescindível sempre contextualizar o período histórico no qual foi composta
esta obra dramática. Somente assim, poderá entender cada frase e estrofe, que
os autores querem expressar para o público.
Todavia, muitas pessoas que
lutavam pela volta da democracia vivenciaram na pele este drama da ditadura.
Portanto, enquanto a maioria da população, infelizmente permaneciam alheios a
tudo, inclusive de maneira ingênua e induzidos através
da propaganda enganosa da imprensa e dos governos militares da época.
Em 21 de junho no Estádio Azteca na
Cidade do México os brasileiros derrotaram os italianos por 4 × 1,
resultado da copa de 1970. A partir daquele dia a taça pertence definitivamente
ao Brasil, em razão de ter conquistado três vezes consecutivamente. Em 1970 o
Brasil era consagrado tricampeão mundial, e nas ruas os
favoráveis ao golpe, festejavam com o verde e amarelo, (semelhante às
manifestações de 2013/14/15 /16 dos golpistas), a conquista da Taça Jules
Rimet.
Os contrários ao golpe eram
perseguidos, presos, torturados e mortos. Naquela época o país contava com mais
de 90 milhões de habitantes vivendo sob o mais duro e sangrento golpe da
história brasileira e foram manipulados pela única mídia da época e o governo a
fazerem a festa da vitória.
Hoje são mais de 200 milhões
vivendo também sob as regras do golpe de estado (alguns dizem parlamentar) mais
sórdido da dos últimos tempos. Em plenos jogos da copa do mundo e no Brasil ela
somente tem sentido para todos os golpistas e algo malacafento para os que são
contra o golpe de 2016.
Em 2018, há muitas semelhanças
ruins com o ano de 1970. A vitória da copa de 70 serviu para calar os horrores
e como instrumento asqueroso de propaganda do golpe de 1964. Da mesma forma, se
por uma desventura o país se consagrar ao hexacampeão, terá a função de
desfocar os malefícios do golpe de 2016. Eles querem orientar de maneira
astuta, toda a nação e cair no perigo de esquecerem que já existe um preso
político no Brasil; é o estadista, é o ex-Presidente
Luiz Inácio Lula da silva.
A função da mídia embusteira,
fazer a infeliz propaganda golpista, é querer fabricar o esquecimento do
petista, o mais conhecido e querido no Brasil e no mundo (Lula), o primeiro
preso político da América Latina, encarcerado, desde o dia 7 de abril de 2018.
Os golpistas têm como objetivo primordial impedir o candidato favorito do povo,
de concorrer às eleições de 2018 em outubro próximo.
O paralelo daquela época para os dias atuais; revela que existem muitas semelhanças.
Existe uma evidente coincidência
quando muitas pessoas são induzidas pelos partidos de direita e a mídia
golpista a clamar por ditadura. Elas ‘não sabem o que fazem’. Estas pessoas ou
são dissimuladas se passam de ingênuas e hipócritas, ou talvez não leiam a
história do Brasil, ou simplesmente fazem isso propositalmente. Tudo porque a
direita raivosa, preconceituosa e golpista, nunca aceitaram a derrota da última
eleição presidencial de 2014, quando foram jogados no lixo mais 54 milhões de
votos dos brasileiros. Rasgaram
a Constituição e pregaram o golpe de 2016, mesmo vivendo em um regime
democrático.
Contudo, vamos deixar este debate
para outra ocasião e iremos ouvir e ler esta bela composição dos mestres: Chico
e Gil. Obviamente pensar em cada frase, estrofe e sentir o sussurro do drama
das vítimas nesta música histórica. Todavia, que nunca mais se repita isso em
nosso país. Viva a democracia!
Chico
Buarque — Cálice
Letra da música (cálice), é uma composição de Chico Buarque e
Gilberto Gil.
Pai,
afasta de mim esse cálice.
Pai,
afasta de mim esse cálice.
Pai,
afasta de mim esse cálice.
De vinho
tinto de sangue.
Como
beber dessa bebida amarga.
Tragar a
dor, engolir a labuta.
Mesmo
calada a boca, resta o peito.
Silêncio
na cidade não se escuta.
De que me
vale ser filho da santa.
Melhor
seria ser filho da outra.
Outra
realidade menos morta.
Tanta
mentira, tanta força bruta.
Como é
difícil acordar calado.
Se na
calada da noite eu me dano.
Quero
lançar um grito desumano.
Que é uma
maneira de ser escutado.
Esse
silêncio todo me atordoa.
Atordoado
eu permaneço atento.
Na
arquibancada para a qualquer momento.
Ver
emergir o monstro da lagoa.
De muito
gorda a porca já não anda.
De muito
usada a faca já não corta.
Como é
difícil, pai, abrir a porta.
Essa
palavra presa na garganta.
Esse
pileque homérico no mundo.
De que
adianta ter boa vontade.
Mesmo
calado o peito, resta a cuca.
Dos
bêbados do centro da cidade.
Talvez o
mundo não seja pequeno.
Nem seja
a vida um fato consumado.
Quero
inventar o meu próprio pecado.
Quero
morrer do meu próprio veneno.
Quero
perder de vez tua cabeça.
Minha
cabeça perder teu juízo.
Quero
cheirar fumaça de óleo diesel.
Me embriagar até que alguém me esqueça.
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