Para entender a Revolução Farroupilha, ontem
e hoje.
Créditos/Wilkipédia/ Guilherme Litran, Carga de cavalaria Farroupilha, acervo do Museu Júlio de Castilhos. |
O ufanismo da Revolução
Farroupilha, o qual é exaltado, em 20 de setembro; no Estado do Rio Grande do
Sul, inclusive é feriado estadual. Este dia faz remeter aos anos de 1835 –
1845. Quando o povo gaúcho travou uma batalha inglória, contra o Império
brasileiro na tentativa de ser uma província diferenciada do restante do
Brasil. Apesar disso, existia viés intencional separatista, a qual há
resquícios, até agora; através da extrema-direita gaúcha.
Não obstante, incluía como pano
de fundo, as pesadas cargas dos impostos, atribuídos pelo poder imperial e as
más condições de vida, as quais viviam os habitantes da época dos pampas; não
muito diferente da situação atual.
As batalhas dos dias de hoje no Rio Grande do Sul, são difíceis.
Ontem dia 09/09/2013, se travou
uma batalha atual entre a tropa
de choque do Governador Tarso Genro, contra os professores e funcionários
das escolas. Os servidores exigem que o chefe do executivo pague um salário
digno aos professores e aos trabalhadores da educação.
Todos solicitam o cumprimento do
piso salarial nacional. Uma lei federal descumprida pelo atual governador, a
luta farroupilha continua sem trégua, mas atualmente em modos modernos e
sofisticados.
Essa ideia de bravura que transcende gerações e gerações até os dias atuais é muito forte. O tal "orgulho de ser gaúcho”, agora não passa de um mero saudosismo, para se relembrar uma época, onde de fato o povo lutou sem medir consequências, para se obter vida digna, direitos reconhecidos pelo Império do Brasil.
O feriado para relembrar como folclore a Revolução Farroupilha.
Entretanto, hoje é feriado oficial no Estado do Rio Grande do Sul, para relembrar a memória dos que deram a vida pelo povo gaúcho. As comemorações de hoje não traduzem a cruel realidade que os heróis da guerra dos farrapos enfrentaram. A consciência do que foi de fato esta revolução está fora do contexto histórico da época. Assim sendo, atualmente é somente festa e se esquecem da real situação do que foi a Revolução Farroupilha, 1835 – 1845.
Esta guerra não foi uma festa como está focada no imaginário popular, foi algo muito além da fantasia, foram violentos combates e derramamento de sangue e dias difíceis para os farroupilhas. Enfrentaram frio, chuva, calor e fome, não foi uma festa como muitos imaginam. Foram momentos cruéis que todos os farroupilhas enfrentaram.
O legado dos heróis da guerra
farroupilha vem esfarrapando-se aos glamorosos festejos culturais, junto aos
fantásticos carros alegóricos que desfilam nas principais cidades gaúchas. Tudo
regado a churrasco, chimarrão bem amargo, e o fandango (dança folclórica) com
peões e prendas vestidas caracterizadas como manda a tradição. Isto é, são fantasiados
de pilchas e bombachas (trajes tradicionais da cultura gaúcha), em seus
piquetes e (CTGs)
Centro de Tradições Gaúchas.
O orgulho de comemorar a Guerra dos Farrapos.
A sociedade de olhos abertos para educação. |
Os gaúchos orgulhosamente fazem esta festança com sentimentos de nostalgia dos legítimos farrapos do período de 1835 – 1845. Neste dia mais um dever cívico do cidadão gaúcho é cumprido. Todos permanecem de consciência em paz e principalmente com o torrão gaúcho amado. Todavia, tudo bem sem dificuldades, parece que não existem mais problemas. Está tudo resolvido e consumado. No entanto, as aparências enganam, acomodam, alienam e o povo sofre carências de tudo e com um diferencial dos velhos farrapos de 1835. Os antigos problemas continuam fortes, são modernos e difíceis de solucionar.
Hoje o povo sofre calado com um
espírito de sonolência e calmaria e se contentam com o mínimo, que o poder
atual lhes oferece. Como se no Rio Grande do Sul, não precisasse mais de lutas,
semelhantes ou maiores do que as dos tempos dos farrapos.
Lutas da atualidade, porque as
necessidades de hoje são maiores e mais urgentes e bem diferentes dos daquela
época. Na atualidade o povo gaúcho necessita de muitas lutas para obter com
dignidade educação, saúde, segurança, habitação e muitas outras que a população
tem sérias carências.
É necessária nova revolução nas políticas sociais para atender o povo gaúcho.
Atualmente o povo gaúcho tem uma
revolução a ser feita na área da educação. Já publiquei neste “blog” que a
educação no Rio Grande do Sul, agoniza por muito tempo. Anda quase a parar e
muitas vezes desfalece. Será necessário um desfibrilador para ressuscitar a
qualidade da educação como um todo. Os piores índices no sistema educacional do
Brasil vêm do Estado do Rio Grande do Sul, segundo os dados do Ideb (Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica).
A realidade é triste nas escolas públicas do Estado gaúcho.
Existem algumas Escolas
Estaduais, a cair aos pedaços, professores em lutas e greves constantes para
obter um salário justo a sua profissão. O governo nem cumpre com o Piso
Nacional do Magistério (PSN). Os famosos precatórios que o governo deve aos seus
servidores e não tem data para pagar. Existem categorias de professores a
trabalhar doente e no sofrimento terrível, segundo pesquisa do CPERS/Sindicato.
Os problemas da saúde dos gaúchos são graves.
A saúde do povo gaúcho está em
estado de calamidade. Os principais hospitais do Estado estão com seus
corredores lotados de pessoas à espera de uma consulta. Há casos em que os
pacientes levam mais de um ano para serem atendidos. O paciente marca a
consulta, mas muitos deles morrem antes de serem chamados. A categoria dos
trabalhadores da saúde ganha um péssimo salário.
Os municípios criaram uma forma
bem prática e barata de socorrer seus pacientes. Como a maioria não tem
hospitais adequados, usa a tática da ambulância terapia, ou seja, todos os
pacientes do interior do Estado são mandados para a capital Porto Alegre, para
serem consultados e medicados via Sistema Único de Saúde. Este ano ocorreram
várias mortes de gaúchos pela gripe H1N1.
É o caos a segurança dos gaúchos.
No quesito segurança todos os
cidadãos gaúchos vivem em situação de total insegurança.
Quem é honesto e trabalhador vive
trancafiado, em suas casas com um aparato de segurança rígido e mesmo assim, os
meliantes invadem as residências, fazem reféns e roubam tudo que é conquistado
com muito suor. Existe uma neurose na questão segurança entre as pessoas.
Infelizmente, ninguém vive mais tranquilo neste Estado gaúcho. Hoje quem pode
contratar poderosos sistemas de segurança, além dos seguranças pessoais
permanentes. Esta façanha é somente para os ricos, os pobres que moram! Não
obstante, quem não pode ter segurança, permanece à mercê dos marginais.
O trânsito é uma verdadeira
carnificina a cada fim de semana e nos feriados. Se mata mais gente do que as
duas grandes Guerras mundiais.
Os riscos nos eventos climáticos são graves.
A população vive em uma situação de risco em relação aos fatores climáticos, seja em época de seca ou de chuva torrencial, não existe um esquema de prevenção às estas calamidades. Muitos agricultores perderam suas plantações, seja da agricultura familiar, ou de pequeno, médio e grande porte. Nas épocas das chuvas severas as populações mais pobres, são as que mais sofrem com as enchentes, perdem tudo e muitos até vem a falecer.
Todavia, há soluções simples as quais resolvem estes graves problemas, mas os governos não fazem, como o saneamento dos lugares onde passam córregos e rios que alagam as moradias. Problemas que muitos enfrentam desde quando se faz uma nova rua ou um grande bairro residencial. Passam anos e anos a acontecer as mesmas situações de destruição e nada é feito.
O sistema habitacional que era
para ser a alegria na vida dos trabalhadores de baixa renda se torna um
verdadeiro pesadelo para todos. A maioria não consegue pagar as faturas, que
eram para ser suaves prestações, mas são pesadas quotizações que consomem tudo
o que ganham. A própria construção é de péssima qualidade e a casa não é
grande. Parece um legítimo cubículo vendido a preço de ouro, ou melhor, numa
espécie de sistema locatário vitalício.
A importância de comemorar, a Guerra dos Farrapos, mas de maneira realista.
A foto mostra soldados reprimindo a manifestação dos professores gaúchos. |
Portanto, comemorar os feitos da Revolução Farroupilha é fundamental para relembrar as façanhas dos heróis do passado. Deste modo, não basta ficar glorificando o passado e esquecer as lutas do presente. A realidade de hoje não deixa de ser uma guerra esfarrapada do presente. Temos muito que lutar pelos direitos conquistados com muita luta e organização e batalhar ordeiramente por uma vida digna em todos os sentidos.
Na madrugada desta segunda-feira, dia 28/12/2015, o governador José Ivo Sartori, visitou mais uma vez a Assembleia Legislativa, com forte esquema de segurança por soldados e a cavalaria da Brigada Militar. A casa do povo amanheceu cercada por grades e o acesso ficou restrito a funcionários e a imprensa.
Não basta só festa, primeiro temos que ser exemplos de virtudes em todos os tempos, ontem, hoje e sempre. Como diz o próprio hino do Estado do Rio Grande do Sul: “mas não basta para ser livre ser forte, aguerrido e bravo; povo que não tem virtude acaba por ser escravo".
A nossa luta segue o exemplo dos aguerridos farrapos deve ser permanente para que se tenha paz de verdade e liberdade de morar com segurança, poder viver cultivando as virtudes de honestidade. Viver sem medo da violência, da falta de saúde, ter uma educação de qualidade com mestres trabalhando, receber salário justo e emprego para todos. Só assim os ideais farroupilhas serão perpetuados concretamente na realidade. De um povo aguerrido para conquistar uma equidade social.
Portanto, para que todos os cidadãos possam usufruir, através das políticas públicas, das riquezas produzidas neste Estado é necessário, grandes lutas e não somente festas. Não apenas ficar na pura miragem de uma época que foi atroz para quem participou de “uma injusta guerra” e hoje se comemora como se fosse algo sereno. Imperativo mostrar o outro lado real dessa “ímpia guerra” através da história, para todas as gerações de uma forma coerente e não demagógica.
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